sábado, 14 de maio de 2011

Iluminação ( Todos os textos )

























Amizade a Sofia


Começou não se sabe como,
nem quando
nem porque.

Resta-nos este espaço,
e o que nele há.
E no que há,
este lugar,
onde vida,
onde humanos,
onde pensamentos,
onde toda imaginação
possível.

Resta-nos o tempo,
onde um percurso
se traça em movimento
a se desenrolar
seguindo no rumo
do que vai sendo.





Astrocosmos

O Universo,
as galáxias,
os asteróides,
os meteoros,
os meteoritos,
a poeira cósmica,
o buraco negro,
as cintilantes estrelas,

o sol e os planetas a girarem em torno;
a lua que resplandece a noite;
as nuvens que flutuam no ar;
a chuva, mágica da água;
o mar em seu constante balanço;
os metais que a terra guarda;
as admiráveis pedras preciosas;

as montanhas que se impõem às alturas;
os imensos desertos,
nós no mundo,
os animais,
dos inocentes quadrúpedes,
às aves que voam nas matas;
dos peixes que se movimentam dentro das águas
aos intrigantes insetos;
das borboletas e suas asas coloridas
à serpente que desliza, fatal;
do pavão e sua calda exuberante
às incansáveis formiguinhas;
dos asquerosos vermes
aos seres invisíveis a olho nu;
Deus,
tudo é mistério.








Halley

Astro circulante,
de longe a retornar,
célere a chegar.
próximo a passar.

Vem, passa, vai,
em reta tangencial.

Tanto tempo
entre suas aparições
quanto a enormidade
da sua órbita.

Entre as aparições
gerações passam.

Pronunciado,
mistificado,
confunde-se com as novas
do seu tempo.

Multidões sintonizam
impressionadamente,
influenciadamente.

Acentuam-se inspirações
de concepções e entendimentos
do universo, da vida,
do bem, do mal.

A magia da aparição
irradia encanto cósmico;
faz germinar nas mentes propensas
idealizações de mundo melhor
neste ninho de vida,
nosso planeta Terra.





O Sol

O sol sempre está
a amanhecer algum lugar na Terra,
que gira,
embebida em sua ofuscante luz.

Seus primeiros raios
iniciam mais um dia
sobre imensos desertos
e elevadas montanhas;
sua luz projeta aos olhos
os distantes contornos do planeta;

sua luminosidade cruza
a superfície ondulante
das águas oceânicas,
dissipando trevas,
nas profundezas onde alcança;

sobre florestas,
densos canteiros,
incontáveis folhas
absorvem sua luz,
e, fazendo-se opacas
aos seus fúlgidos raios,
preservam o equilíbrio
de um mundo em sombras;

sobre as cidades
acorda os homens
para mais um dia,
na busca da vida,
erguer o sonho
sob a imprecisão da vida.

O sol sempre está
a amanhecer algum lugar na Terra
quando encaro seu corpo morno, crepuscular,
e medito no que há de novo
desde sempre,
sob seu foco:
prodígios e estupidezes da humanidade.
Nossa história se sucede sob seu foco vital.

O sol sempre está...
Mesmo à noite,
quando reina a lua,
soberana na escuridão do céu,
é ainda o sol
que veste seu corpo de luz.



O planeta

As aves chamam-no
Ar;

os peixes,
Água;

os homens,
Terra;

tanto quanto porém é
Fogo.



Adoráveis pequeninos

Um tempo fui criança,
pequenino ser humano,
precisado do amor,
da proteção, da compreensão
dos adultos que me rodeavam.



Sem consciência ,
sem pensamento;
nada na mente,
nada no coração;
nenhuma razão,
nenhum saber;
mas muita fragilidade
e necessidade de atenção.

Era um anjo da natureza;
inocentezinho da vida.
Tão vulnerável
como são as crianças;
era belo
como são as crianças;
era admirado
como são as crianças.

Era a pureza da vida;
era uma beleza da natureza,
como as flores,
o mar,
o céu;
as estrelas.

Vivia no Reino dos Céus de Jesus,
sem saber do mal,
da crueldade do mundo.
Tudo só o bom,
tudo tão bom-bons.
Era uma criança.
Meu tempo de ser na vida
o mais caro bem,
bem como são
os adoráveis pequeninos. 



Exaltação à natureza

Digna de exaltação é a natureza,
pelas maravilhosas grandezas
que induzem à contemplação,
despertando admiração.

Magnífico é o sol resplandecente.
A Terra ilumina excelsamente.
Esplendoroso astro, de brilho preciso;
energia vital; calor; luz do paraíso.

O céu, que se distende azul ao infinito,
apresenta aspectos os mais bonitos.
Realçam-lhe as multiformes nuvens,
chuvas, relâmpagos, raios, arco-íris que surgem.

À noite é ainda demasiadamente formoso;
com a lua e as estrelas faz-se assim luminoso.
Brilhantes cravados no escuro do firmamento
proporcionam momentos de enlevamento.




Tem esplêndida grandiosidade o mar.
Arrebatadoramente espetacular.
Um mundo de água em balanço constante,
e de infindas ondas estrondeantes.

E no mar deságuam os rios suas correntes,
advindas das mais cristalinas nascentes;
inexoráveis, com toda água se vão,
deslizando em fundos sulcos no chão.

São relevantes as montanhas, portentosas;
imponentemente imperiosas.
O solo que se ergue elevadamente.
Altíssimos picos em nuvens envolventes.

O providente verde que brota na Terra
é ostentoso na exuberância que encerra;
dá-nos deliciosos frutos, o alimento,
e flores de sublime encantamento.

Os animais também nos fazem impressionar.
Sejam da terra, da água ou do ar.
Espécies diversas, as mais diferentes,
são mágicas criaturas presentes.

Fascinante a inteligência humana.
Faz notável a raça, que progride soberana,
sobrevivendo graças a esse princípio ativo,
ainda que coexista todo um lado negativo.

E o que dizer das pedras preciosas, dos planetas;
dos vulcões, dos meteoros, dos asteróides, dos cometas;
de todo o mistério da causa primeira
e da compleição da estrutura inteira?

Mesmo enfurecendo-se a natureza em rompantes,
toma-nos de espanto por quão impressionantes.
Terremotos, maremotos, tempestades, furacões...
Das tristes conseqüências suscitam reflexões...

A própria vida que então vivenciamos,
e que com toda a ciência ainda não deciframos
é um enigma com o qual não podemos atinar:
algo invisível na matéria a pulsar.

É extraordinário a ocorrência de corações grandiosos.
Iluminados, de feitos e ditos prodigiosos.
Divinizados, se fazem à alma de um povo encaminhar;
eternizados, capazes de um novo tempo iniciar.

Possui o universo belezas suntuosas.
Nos faz conceber a natureza prodigiosa,
quando ela nos pomos a apreciar
em suas radiantes cores a vibrar.



O próprio

Vem num tempo
desde sua era primeira;
desde bichinho qualquer,
desenvolvendo habilidades.
Lascou, poliu pedra,
dominou o fogo;
empertigou-se;
animais domesticou,
plantas cultivou.

Se fez da evolução,
se fez da criação,
se fez Deus,
se fez o Bem,
se fez o Mal,
se fez o próprio.

Descobriu combustível,
inventou motores,
ganhou mares,
ganhou asas,
ganhou ares,
ganhou espaços.

É multicolorido,
de variados tipos,
sobre o chão,
das rústicas cavernas
às moderníssimas moradas,
revoluções protagonizou.
E quantas outras poderá ainda,
no rumo que segue à perfeição?

Contemplava a lua curioso,
alcançou-a gracioso.
Outros astros o esperam;
outras conquistas tantas,
desde que conquiste a eternidade
resguardada em si mesmo,
sobrelevando-se vitorioso
do seu âmago conflitante
entre o anseio de viver
e o autodestrutivismo.

Segue inexorável,
a menos que por si mesmo
ou por qualquer catástrofe cósmica,
o homem.





Breve história do homem e a natureza


Aqui tudo já foi excelente:
o ar puro, a água cristalina;
densas florestas
de fartos frutos;
céu límpido,
de nuvens imaculadas;
sol de raios saudáveis.

Nas noites destes dias,
mais brilhantes eram as estrelas;
o luar tinha mais contagiante encanto,
mais doce mistério.
Os animais viviam seu natural.
Era paz sublime.

O homem despontou,
com sua inteligência e necessidades;
com seu sonho e sede de poder;
com seu amor, sua paixão;
com seu ódio, sua ambição;
com sua potencialidade de desenvolvimento;
com sua lucidez e sua ignorância;
com seus caprichos e ideologias,
desenhando fronteiras;
acomodando-se em conglomerados
de guerras e poluição,
de doenças e mortes,
de desequilíbrios e loucuras.
E no reverso do progresso
o ar torna-se cada vez menos puro;
a água cada vez mais envenenada;
as florestas cada vez mais dizimadas;
o alimento cada vez mais intoxicado;
o céu cada vez menos límpido,
com nuvens de chuva ácida;
o sol cada vez mais nocivo,
pela passagem de raios venenosos.

Nas noites dos nossos dias
estrelas ainda brilham
acima de fumaças de sujeira,
e a lua não tem mais o mesmo encanto;
o charme do seu mistério,
com bandeiras e pegadas;
os animais cada vez mais
menos direito têm à vida;
alguns extintos, outros ameaçados
de não mais existirem.

Os conflitos são guerras
cada vez mais infernais;
o futuro cada vez mais é incerto.

Contudo a natureza grita, resiste,
na voz e ação de homens,
que como anjos,
como guardiões da Terra,
se indignam e reagem
heroicamente
contra as aberrações
da destruição do planeta,
enquanto se cultiva a esperança
de que o homem continue sua escalada,
lhe valendo mais uma inteligência
aliada a uma imprescindível sensibilidade
procedentes de uma nova consciência
para progredirmos sem destruir,
para convivermos sem nos agredir.




Realidade e ficção

No livro de ciências,
realidade natural,
o gavião devora a cobra;
a cobra devora o sapo
( devora também o rato );
o sapo devora o gafanhoto
( devora também a mosca,
o mosquito, ( que suga sangue ) );
e o gafanhoto come o mato.

O homem,
como se sabe,
mata a mata;
mata nuvens de gafanhotos;
mata moscas e mosquitos;
mata o sapo;
mata rato;
mata a cobra;
mata o gavião;
mata o outro;
mata a si.

Num livro de ficção,
fantasia da imaginação,
homem voa;
papa pinto;
engole cobra;
tem veneno;
rasteja;
silva;
pica;
engole sapo;
pula;
canta na lagoa;
come mosca;
engole lixo;
suga sangue;
vira nuvem;
queima mato.
Gavião devora mulheres;
cobra pinta;
sapo canta;
mosca dança;
mosquito fala;
gafanhoto escreve;
mato vê...




Geométrico

São tantas
as incomodações

porque

as pessoas
têm formas diversas:

lineares,
cônicas,
triangulares,
quadradas,
retangulares,
pentagonais,
hexagonais,
heptagonais,
octogonais,
e formas mais...

Tem até estelares.


E sendo o mesmo
o espaço
em que contingenciadas,

as pontas ferem-se
umas às outras.

Formas há
sem pontas
porém:

cilíndricas,
ovais,
circulares.


Mas há também
acomodações.





Meus versos

São meus versos
uma forma como me expresso.
São palavras conectadas
segundo uma disposição subjetiva;
linguagem em inspirações;
são multiformes poemas que se pretendem literatura,
em versos rimados, ou não;
na concretude da poesia pura, ou não;
são casuais, ou não.
Seguem a própria técnica de um estilo,
em suas medidas e parâmetros ,
mas também tem toques de influências, de correntes
em variantes confluências.
Meus versos refletem aspectos da minha vida.
Meus versos vêm de estados naturais;
do pleno exercício da liberdade...
Fazem-se também letras, composições,
canções, músicas;
não se furta a lugares comuns,
mas apresenta lugares alguns incomuns.
Eles me são fáceis, mas em muito
depois se fazem difíceis,
pelas imperfeições em que se mostram,
verdadeiros quebra-cabeças,
nos quais me ponho a matutar,
a tentar satisfatórias soluções...
E até o último passar a limpo,
até que algo me divirto nesse passa-tempo,
manuseando palavras, me insinuando,
imaginando, figurando,
raciocinando, analisando
retificando, ratificando,
coagulando, sedimentando,
simetrificando, burilando, concatenando,
quando não se engrena em um fluir de automatismo,
tentando a máxima proximidade
possível da perfeição
num esforço de transcendência,
não obstante possam ser encontradas neles
contradições para além de redundâncias,
superficialidades para além de profundidades.
Nos meus versos lido com minhas emoções,
desde as boas às ruins,
minhas reminiscências, saudades,
memórias, enfim,
tudo que me marca,
tudo de que se constitui a minha psique,
tudo o que quero versificar,
o que quero dizer,
ou até a conversa que quero jogar fora,
em caráter de unicidade, dualidade ou pluralidade,
mas fazendo-os trilhar pelo fio condutor
do encargo concernente à literatura,
no que a vida aborda,
mas também incorporando uma indisfarçável ironia
em não raras passagens.
Nos meus versos exteriorizo
paisagens aqui internalizadas,
trazendo à baila o que me é introspecto,
idiossincrático.
Exponho em quadros mentais
subjetividades.
Meus versos fazem-se realidade metaforizada; supra-realidade;
ficção, verossimilhança, lirismo;
fantasias, utopias,
invenções criativas,
baseados em fatos reais, ou não.
Nos meus versos lido com o que vai no meu íntimo,
trabalhando neles com dedicação,
por gosto,
desafio,
ideal,
querer,
prazer,
poder;
por necessidade de expressão,
por ócio, tédio, vazio,
por impulsão, compunção;
vêm do íntimo, passam pelo coração,
pelos sentidos, pelo cérebro...
Mas assim como racionais,
vêm uns também de sentimentalismos,
sejam estes intrínsecos ou extrínsecos.
Meus versos viajam pelas estradas,
pelos campos, pelas cidades,
pelo meu país, pelas civilizações,
pela Terra, pelo Universo conhecido e imaginado,
por caminhos abertos no céu,

por extensas planícies de luz.
Meus versos viajam por noites astrais
até as mais douradas auroras e por belos dias azuis.
Meus versos não podem se furtar a temáticas
políticas, filosóficas, científicas
históricas, artísticas, religiosas ou ideológicas,
ufânicas, ecológicas,
bem como a temáticas místicas, sobrenaturais,
misteriosas, ufológicas,
assim como a amenidades do cotidiano;
e aí então vão-se pensamentos, teorias, princípios,
conceitos, conclusões, constatações,
conjecturações, ponderações,
descrições, narrações, dissertações,
digressões, assertivas; elucubrações,
confissões, confidências, intimismos,
discursos, cantos, orações.
Meus versos também se fazem
por temas pelos quais são motivados,
estimulados;
temas de qualquer Tempo, Era, Idade,
seja Antes de Cristo, Durante Cristo ou Depois de Cristo.
Meus versos falam também dos conflitos,
confusões, inquietações, embates e dilemas
em que se envolvem as paixões;
do pesadelo que pode acometer o sonhador,
remetendo-o às trevas infernais, do negror medonho;
ao abismo da loucura desesperada,
caindo em desgraça.
Mas fala também na graça inerente
de quem na fé persiste;
da luz que se pode revelar no fim do tenebroso túnel;
e do poder de iluminar que confere a quem lhe chega então, 
descortinando-se assim o paraíso num bom termo chegado;
dos que assim se fazem admiráveis mundos novos,
maravilhosos e louváveis milagres.
Meus versos também falam da aventura desta conquista,
a conquista deste ser,
O Ser Superior.







Vida é viver

Vida é viver,
naturalmente ser.
É toda realidade
admirável de verdade.

De inocente brinquedo
a relutante enredo,
há alegrias, há tristezas,
porém maior é a sua beleza.

Há pena em perdê-la.
Um dia será como não mais tê-la.
Mas há esperanças, mistérios...

Meditando em mágicos instantes,
vislumbro no Universo fascinante
ocultos e precisos critérios.





Trem da vida

O trem da vida
segue sua viagem
sobre as trilhas do tempo,
de curvas acentuadas
e retas aceleradas,
e que em momentos se fazem
altíssimas pontes
sobre fundos precipícios.

Vai o trem
movido pela sua ciência
por lugares tantos,
fazendo-se a todos ouvir
seu apito, seu barulho,
seus sons característicos.
Para em estações,
de onde recomeçam.
E quanta gente vai no trem.
Gente viajando
da cidade para o campo;,
do campo para a cidade;
gente que viaja a buscar um sonho;
gente que viaja a buscar a fortuna;
Gente que viaja a encontrar alguém.
Também gente que trabalha;
gente que se aventura;
gente que se diverte;
gente mais.

gente que conversa;
gente que lê;
gente que ouve música;
gente que aprecia vistosas paisagens,
montanhas,
vales,
fazendas,
gados,
plantações,
mares,
rios,
cidades,
vilarejos...

Gente vencida pelo cansaço;
gente que dorme.

Tanta gente
vai no trem.



Festa

Para Manoel da Alegria a vida era uma festa.
Assim era sua visão da vida:
uma grande festa,
onde o planeta é o imenso salão,
e os astros são luzes decorativas;
em que se encontram gentes,
se namora,
se faz amor;
em que se trocam endereços,
telefones,
e-mails;
em que há também desentendimentos,
que podem levar a discussões,
contendas em geral,
que podem levar a brigas,
que podem levar a expulsões.

Mas em que há também abraços,
risos,
beijos,
e lágrimas.
Lágrimas das mais incríveis emoções.

Muitos cometem excessos:
bebem demais,
comem demais,
fumam demais,
se drogam demais;
se apaixonam demais,

se jogam demais,
e até enlouquecem.

Muitos se vão da festa mais cedo;
muitos outros ficam muito mais.
Mas tem sempre mais gente chegando.

A festa a todos inspira.
E assim muitos dançam,
muitos cantam,
muitos discursam,
muitos escrevem.
Cada um proporciona seu espetáculo.
E Manoel da Alegria, amante tanto que é desta festa,
já providenciou para quando dela se estiver indo
a execução em ritmo de discotéque
da marcha fúnebre.




Palco de feras

Na terra,
palco de feras,
o mal impera.
E tanto se erra.

Pelas eras
eclodem guerras
e mais guerras.
E mais se gera.

A vida emperra;
o amor se ferra;
o fim se acelera.

A morte encerra
na alta serra
da boa espera.



A alegria resiste

Mundo deveras triste.
Mas a alegria resiste.
Em distintos corações persiste,
por um bem que existe.

E no que se manifestam,
fazendo-se bem perceber,
ao mundo então atestam
que ela ainda se faz valer;

que dores são submetidas,
que lágrimas são suprimidas,
que felicidade não é ilusão;

que ela pode ser alcançada,
e se pode fazer conquistada,
sendo verdadeira no coração.



Segredos do mar

Estava à beira do amar,
onda forte veio me alcançar.
Arrastou-me lá pro mar.

Nadei, mergulhei, lutei, voltei.
Tanto passei;
tanto me assombrei;
tanto me maravilhei:
fez-me ver monstros marinhos;
fez-me ver belezas do mar.

Tanto desvendei:
segredo um, segredo outro;
outro segredo a mais;
um outro segredo também;
e ainda mais um segredo,
e um outro segredo além.

Todos, segredos do mar.
Segredos de saber,
mas não de contar.
Segredos do mar.




História de uma loucura

Enlouqueceu.
Enlouqueceu a amar a vida,
o mundo,
a natureza,
uma mulher.

Enlouqueceu por amar;
por pensar;
por música;
a se viciar;
a se esbaldar de prazer,
na farra,

a rir,
a pilheriar,
a ironizar,
a brincar,
a maquinar,
a se enganar,
a se escravizar...

Enlouqueceu de paixão;
pelo sonho.

Enlouqueceu em seu carnaval,
sob batuques;
à ventania;
a se desesperar;
às fustigações
às chacotas e risos;
à violência dos repentes;
às palavras de fogo;

aos motores ensurdecedores
a se indignar;
a se descabelar;
a se desabafar;

a se humilhar;
a se ridicularizar;
a se frustrar;
a se decepcionar;

a chorar;
a se desiludir;
a tentar atinar com as perseguições,
com os impedimentos
em toda a parte
ao redor...

Enlouqueceu na política.

Enlouqueceu pelo mal,
pela falsidade,
pela hipocrisia,
pelas discrepâncias,
pelas aberrações,
pelas injustiças do mundo,
pelas discriminações dos preconceitos,
pela capacidade de vileza do ser.

Enlouqueceu de si mesmo,
de enlouquecer,
de se injuriar,
de não poder,
de pressa,
de ansiedade.

Enlouqueceu a tentar não enlouquecer;
a se descontrolar,
a se destruir.

Enlouqueceu entre os seus,
na rua,
no bairro,
na cidade,
no país,
no planeta,
no mundo.

Enlouqueceu às vozes azoadoras;
a se tratar;
a entortar-se;
a se automedicar;
a lutar contra a idéia de suicídio.

Enlouqueceu a se calar;
a se compenetrar;
a meditar;

a orar;
a fugir;
a rugir.
a se esconder de tudo bem dentro de si;
a ver discos voadores,
espectros humanos,
figuras as nuvens,
miragens...

Enlouqueceu a vislumbrar;
a desvendar;
a ganhar fé;
coragem;
a acreditar;
a caminhar pelo mundo;
a cruzar desertos;
fronteiras;
a buscar outros ares;
no instinto de se curar;
a se buscar vingar,
fazer-se valer;

a se encontrar em bem-estar;
a se recair;
a insistir-se...

Que no fundo de tudo
há mesmo uma razão pessoal maior
que justifica enlouquecer
pelo desejo de resplandecência.



Sonhador dos retinidos

Sonhador dos retinidos,
revoltado, incompreendido
no contra o que se tem insurgido.
Perturbado, decaído,
desespera consumido,
até o dizem possuído
por um mal que bem bandido
tomou seu ser distraído.
Anda tão aborrecido,
fazendo tanto alarido.
Grita assim de tão doído;
está confuso e dividido;
age qual enlouquecido,
como se tudo perdido.
Seu mundo já derruído,
seu viver estremecido.

Sonhador dos retinidos,
que de já há muito tem sofrido,
faz a tantos condoídos,
e anda tão deprimido,
macambúzio e inibido,
lhe tem o pânico infligido,
o seu mal tem combatido,
mas ainda não tem vencido.
Tem bem muito resistido
pra não tombar combalido;
o que mais tem perseguido
é fazer-se soerguido.
Mesmo quase que vencido,
você tem se conduzido
um guerreiro aguerrido,
cada vez mais destemido.

Sonhador dos retinidos,
tanto tempo decorrido,
desde há muito está sumido,
pelo mundo tem saído,
não o tenho esquecido
Por onde é que tem ido?
O que lhe tem sucedido?
Como tem se conduzido?
Em que se tem envolvido?
Como é que tem agido?
O que você tem aprendido?
Como tem sobrevivido?
Como tem se protegido?
tudo está desentendido.
Faça tudo esclarecido
pra de todos ser sabido.

Sonhador assim nascido,
qual o forte retinido
para um mundo adormecido
sua mensagem tem seguido;
faz tornar-se eclodido
um saber inda escondido
para uns tantos envolvidos
e pra quem bem tiver ouvido
pra captar o sentido
do real que é proferido
e pelo qual se faz regido.
Bem deve ter merecido
ser tão mais evoluído,
altamente instruído,
além de ter conseguido
realizar seu pretendido.

Sonhador dos retinidos,
no que tenho concluído
o amor lhe tem sorrido;
tenho já me convencido
por tudo que tenho ouvido.
Está tão bem resolvido,
Fez-se assim bem sucedido;
está tão fortalecido,
mostra-se comprometido
com esse bem que tem colhido;
e tão bem o tem defendido.
Vem numa paz investido,
com um brilho retinido,
de uma luz que tem trazido
e tem muito reluzido
no planeta envelhecido. 



Sons e cantos

Pelo rádio vinham sons e cantos
nos prenúncios matinais,
nas antemanhãs ao despertar,
encantando a mente pueril,
curiosa, indagadora,
intuitiva , adivinhadora
de que de longínquas distâncias vinham.
Era o mesmo mistério nas auroras...
Rubra era a luzinha da sintonia.

Sons e cantos vinham
germinando vivos sonhos,
de precoces desejos,
inspirando primeiros cantos,
miméticos aos ouvidos do mundo,
na fantasiação delirante,
até voltar à realidade,
d’onde os vivos sonhos nasciam.

Um áureo sonho num sono sonhado
dissipa a sombra assustadora da morte,
monstro a espreitar criança em pavor ,
que custa pregar os olhos a dormir.

Tudo adormece
enquanto o ser cresce
nos afazeres da vida,
nos tratos da lida,
sem deixar de ouvir jamais
sons e cantos no ar,
de tão herméticos entendimentos
que nem valem raciocinar,
mas de irrecusável encantamento
pelas notas a vibrar,
pelos tons e melodias,
pelos sentimentos e poesia,
o que leva num momento a imaginar,
a desejar,
a cantar,
nas entrelinhas dos afazeres da vida,
dos tratos das lidas.

Tudo adormece,
mas tudo pode despertar,
ainda mais se o céu desaba;
ainda mais se o mundo se acaba.
E quando tudo desperta,
sonho, desejo, imaginação, fantasia,
são lavas vulcânicas
que se irrompem incontidamente.
E se toca pelas longínquas distâncias
para alcançar de onde vem sons e cantos
- Seja uma estrela do firmamento,
seja um confim de mundo.

Sons e cantos tomam o juízo,
despertando inerentes sentimentos.
Até os que não se quer ter,
zoando num momento de aflição.
Sons e cantos assim
como insetos zoam;
agoniam a consciência,
remoendo dores condoídas
num dolente momento de aflição
no leito que então se faz
do querer ser outro livre ser
de próprios sons e cantos
reveladores de pertinentes verdades.

Sons e cantos tomam o juízo.
E neles vêm canções, corações;
nuances da vida, histórias;
dor sangrenta que balança;
a paz celeste alcançada;
a morte como ser da natureza.
Sons e cantos tomam o juízo,
e neles vêm desilusões,
traições de anseios e expectativas,
amores que não quiseram seus amores;
mãos que ficaram no ar;
explosões de rebeldia irreverente;
amarguras em prisões;
sofrimentos de açoites,
por imperdoados erros,
de deslevadas ignorâncias,
de pecados e crimes.

Nos sons e cantos vêm
sexo, drogas e sons e cantos;
e histórias tais
como um cerco a se fechar;
fuga de redoma sufocante;
retorno do desejo de sons e cantos;
zumbis em estradas;
peitos a paixões apegados;
se jogar pelo planeta,
abnegadamente à prova,
num tudo ou nada,
num vida ou morte.

Nos sons e cantos vem
a fé dos abençoados
em boas palavras;
a luz que se faz presente;
que ilumina e inspira a vida;
seres que vêem no outro
carne da sua carne.

Nos sons e cantos vêm
o que é ter esse sentimento
de estar injetado para sempre de amor.

Nos sons e cantos vem
uma versão da história.
Da história de sons e cantos.




Crescêncio

Era uma criança inteligente e brincalhona,
fez-se um adolescente pra frente e sorridente;
d’aí a um rapaz idealista, aventuroso,
até ver-se um adulto infeliz, indignado,
no cerne da sua espiritualidade,

pois no que se encontrou de repente,
se havia enclausurado, em estreito sentido
num enredo mundano,
num mal inimaginado.

Vinha crescendo no aprendizado
das coisas da vida;
no que a si mesmo se propôs,
até saber deste ardil
sentindo-o em si,
irrecorrivelmente.

Não mais havia seu chão,
suas paredes,
seu espaço,
seu lugar...
Era mais um sonhador perdido no planeta.

A morte lhe flertava como caminho de fuga;
estrelas refletiam-lhe,
insinuando-se em sua realidade,
solitária, distante, deserta,
em pungentes pontiagudos brilhos,
despertando-lhe vislumbres de outras direções,
a atuar assim nesse mundo desregulado,
desajustado, desconcertado,
de tantos problemas;
ser mais um referencial de a vida acima de tudo
para tantos quantos nessa enrascada
a sofrerem se vejam.

Tanto houvera feito sem porque fazer;
tanto sem se dar com o que houvera feito,
como fosse fantoche de confuso pensamento,
de desmedido e descontrolado desejo
para uma platéia, seleta ou não.
E assim chegara ao grande mal-feito,
cometendo loucuras.
Era um adulto triste;
já menos que infeliz.

Apesar de tudo
ainda era um sobrevivente
da grande viagem ao desconhecido;
de onde tantos não voltam.

E um quê de amor à vida,
de amor ao viver,
subsistiu-se nesse seu ser,
desta forma resumido
em pleno juízo
reencontrando-se assim no desejo,
no sonho,
no amor,
revelando histórias na sua história
de esplendia forma,
graças a um dom congênito seu,
o qual fora turbinado potencialmente
quando num momento de queda ao chão
adquiriu sua mente a energia da força,
vivenciando um recurso fenomenal da natureza,
que assim o acolhia em seu seio,
e que fora otimizada, aperfeiçoada e arrematada,
e que revelou-se de distintiva preciosidade,
no que se fazia imperioso
dar sentido a sua vida de sonho, de desejo, de amar...
Submeter aquela toda tristeza,
e para fazer com que ela irreprimivelmente
se implodisse dentro em si.
E no que se fez trazia-se integrado
a todos os sentimentos atinentes,
inteligentemente pra frente,
aventureiramente idealista,
ainda que não escondendo a tristeza em sua razão,
mostrava-se brincalhonamente sorridente,
indignadamente revelador,
espirituosamente feliz,
atuando assim nesse mundo.




O dia do sol

Um dia declarei a um sol divino
um amor despertado ainda menino,
e pediu-lhe meu coração nesta hora
que jamais se fosse embora.

E na ambiência das áureas chamas assim foi feito:
arrebatou-me um saber, misterioso, insuspeito,
mudando minha vida em tal instante;
fazendo-me a alma dessemelhante.

Revelou-me novo sentido de viver;
para o desejo um novo moto propulsor;
suave e doce em seu poder.

Faz-me luminar a renascer
no magnífico âmago do seu esplendor,
qual a própria filosofia do seu ser.




História corrente

Inesperado acidente,
indesejado incidente,
por agir agressivamente,
emocionalmente,
impulsivamente,
acomete-o de repente.

A alma sente,
transtorna a mente;
faz-lhe paciente,
no sentimento dolente.
Quis ser um todo-potente,
universalmente.

Buscou caminhos diferentes,
vivendo outros ambientes;
conheceu outras gentes,
e no desejo crescente,
da vitória crente,
se mostrava contente...

Fazia-se transparente,
de pureza simplesmente;
um ser tão sapiente,
de amor latente,
se tinha vidente,
do viver experiente.

Sensações referentes,
emoções pertinentes;
auto-referendado ente,

orientador de mentes
ao desengano eminente,
sonhava inocentemente.

Prezava um Deus, intimamente;
algo assim, catolicamente.
mas não de todo convincente:
não se mostrava coerente
vivia perigosamente;
nos bacanais era presente.

Era o todo envolvente,
ilusoriamente.
Achava-se em escala ascendente,
declinava lentamente.
Desiludiu-se finalmente,
desesperadamente.

Era tudo aparente.
Reagiu humanamente,
ficou até demente.
Um tanto inconsciente;
viveu como indigente,
abnegadamente.

Foi por desertos ardentes;
passou frio de ranger os dentes.
À sua queda resistente,
lutava tão somente.
Da sina adversa ciente,
se fazia insistente.

No enredo inclemente,
teve medo realmente.
Agiu corajosamente,
agiu covardemente,
temendo tornar-se ausente,
perdendo tudo eternamente.

No dia-a-dia indo em frente,
não de todo desistente,
vivendo naturalmente,
sonhando e no batente,
o destino lhe foi complacente:
fez-lhe alguém eminente.

Um ser todo consciente,
a se expressar reveladoramente
do que se lhe faz assente,
e faz ver a todo vivente,
indubitavelmente,
a luz, viva, reluzente.





A ideia nova

O ofício de escrever requer dedicação.
Há de se reconhecer o seu valor
e aceitar os seus duros ossos.

Nada é perfeito,
mas se pode fazer o melhor.
E tudo é o que há a se fazer.

Dedicação requer trabalho;
o texto no contexto,
sem desperdício de tempo.

A aceitação faz-se imperativa,
na pura vontade
a todo momento.

E há tanto a fazer
para adiantar o afazer,
que é atraso parar.

O melhor é a ideia nova.
Tema novo dá nova motivação.
Uma nova mensagem a comunicar.

Algo diferente que a si concerne;
concebido no próprio estilo,
vivendo viva inspiração.

mas há também o rascunho
de algo outrora idealizado,
ou algo iniciado a se lapidar.

Há a lembrança de algo perdido,
e que reapareceu com a velha pulsação,
ou algo que não se pôde conservar,

Algo do que se teve de queimar.
( É comum fogueiras de papel:
A escrita também se insiste

como a alma a se querer suster
com seus sentimentos e emoções,
seus desejos, seus valores... )

Há outro rascunho a fazer.
Algo não bem definido,
mas bem iniciado.

Há também a ideia que escapuliu,
e da qual nem o rascunho foi feito.
E cumpre não perder uma nova oportunidade...

Mas é ainda a ideia nova
que traz especial contentamento.
O combustível que mantém o ofício,

dentro d’um tempo ainda,
vivo e acordado,
que ainda é o que é.







Além

Há muito além
das grandezas do universo,
das explosões solares,
dos astros estelares.

Há muito além
das oscilações de temperatura
no planeta Mercúrio;
da densidade atmosférica de Vênus;
de toda a vida na Terra;
da gravidade da Lua;
das especulações sobre Marte;
da enormidade de Júpiter;
dos anéis de Saturno;
da constituição de Urano;
das luas de Netuno;
da órbita de Plutão;
das funções de tais existências;
se para tais viajam desencarnados;
se de lá vêm encarnarem-se
ou reencarnarem-se;
se energias irradiam-nos

que nos determinam os temperamentos.

Há muito além
de outros planetas
que venham a existir,
por se descobri-los,
ou de mistério qualquer
que a tais envolva;

há muito além
do que lhes associam
a grega mitologia;

há muito além
do que se possa ver
num tour espacial,
num carro espacial
de planeta a planeta
deste sistema solar
e de outros que mais existam;

Há muito além de ver
que tudo é bem maior:
o Cosmos;

Há muito além
de tudo o que vem
de um mergulho de cabeça
ao fundo do mar;
de tudo o que lá se vê
e o que se possa contar:

é a existência ainda
do verdadeiro amor
e tudo o que vem
de para quem
ele sorri.





Onírico

Movido por seu sonho pueril,
foi atraído a um mundo diabólico,
que se lhe perfilava róseo,
de névoa suave,
multicoloridamente
iluminado por radiantes focos de luz
de claridades tétricas.
Trazia um desejo velado
no mais recôndito de si,
repousado inflamado,
insuspeitado na sua serenidade,
mas no entanto crescente.

Mas por um contato com faísca estelar
que fez-lhe incandescente,
pelo ímpeto obsessivo
do ideal sacramentado,
foi absorvido pelo turbilhão
redemoinhoso das paixões,
entregue aos desatinos incontidos
nos rompantes incontroláveis,
girando em tontura a mente,
sendo absorvida incessantemente
por obscuro sumidouro.

E já não sabe que rosto tem,
nem o que lhe vai em si,
ou o que se lhe sedimenta no pensamento;
que nem sabe o que é,
nem como é que é.

Desidentidatizado
no mundo fosco embaçado
em que já não se reconhece,
conservado numa mínima auto-estima,
mas, que a partir da qual então,
crendo no que se deve crer,
do que se deve fazer
para reverter-se da adversidade,
prosseguindo ainda nos intentos...

Então por fim deu-se de frente
no mais límpido espelho.
Sorria entusiasticamente,
reconhecendo-se o velho cara,
e chega a expressar-se oralmente,
qual pensando alto,
o imenso prazer de rever
tão caríssima criatura,
e tão disposto na prontidão
para não parar de fazer e acontecer
coisas do sonho, do amor, da paixão
a minarem do coração.

Fantasmas da perdição

Ao despertar entrou em pânico de repente.
E o grito que irrompeu da garganta afora,
pois no que se viu o brado saiu automaticamente,
era toda a força da vida contida, porque ia embora.

Sem saber como em tal situação havia parado,
não lembrava de prenúncio ou preâmbulo.
Percebia-se então um suicida sonâmbulo?
Inconsciente, teria a extrema decisão tomada?

Tontura, frio na espinha e arrepio nos pelos.
Frio também no estômago e no coração um gelo.
Às suas vistas a realidade era mais que crua:
a calçada a que ia de encontro era a sua rua.

E no mesmo átimo do desespero fatal,
o espírito agitado, em tremendo vendaval,
todo o pensamento a Deus convergia.
Era um ser que em queda livre logo morreria.

O resumo da vida passava; as janelas...
Viria com o tremendo choque a fatal consumação,
mas foi o sol na cara e a clara compreensão:
despertava de um pesadelo numa aurora tão bela.

No peito uma ira, como de quem sofreu desmesura,
no agitado coração acumulou-se intensamente.
Intuía fortemente: engendraram tal loucura.
Seus fantasmas da perdição, certamente...


Era um idealista sonhador

Lembro de você
o desmedido escândalo
por um louco querer.

Não há sinal de ti.
Certamente sucumbiu
no velho milênio ocidental.

Era só ansiedade,
já sem a serenidade,
apenas intranquilidade.
Aqui está tão presente.

Seu sofrimento pelo desejo
era caso de vida ou morte.
Se iniciava sua perdição,
mas nada se podia fazer...

Queria porque queria
a real fantasia...
Talvez não a tenha
querido mais.

Apesar de tanto tempo,
tanto tempo,
aqui está tão presente.
Na minha memória,
é a mais cara lembrança.

Era inocente,
sonhador;
acreditava no amor,
na poesia,
na música,
na arte,
em quem por amor se move;
em mundos novos,
em ideais,
em destinos,
em estrelas...

Acreditava em divina graça,
em missões,
em paixões por um mundo melhor,
em se fazer valer por Deus;
em atribuir a Deus a própria vitória;
em Deus querer por ajuda;
em deixar a alma fluir,
sob o sol a reluzir.

Talvez não crê mais;
não quer mais;
e assim não vai fazer sentido
com todo o acontecido.
Serás só um louco comum
que aceitou morrer;
que se negou à conquista,
após tanto prometer,
após tanto desejo.
Mas se está tudo bem,
tudo bem...

Espero tenha se encontrado,
e enveredado bom caminho,
sem vergonha de nada,
de quando enfeitiçado
na mística da coisa,
e sempre encontre uma razão
que lhe explique e conforte.

Não importa a idade,
espero tenha felicidade
e que seja mesmo você.

Depois, tudo é viver.
Morrer é outra coisa.
E vida tem fantasia.

Vida também tem esperança,
na vida d’uns sonhadores
pelo bem influenciado.


Também certo é que há
o encontro com a redentora presença
do anjo tornado Deus,
dando o ar da graça,
mas isso também depende

de o quanto se observa seus princípios,
pois há provas de fé que exigem sacrifícios,
até que venha em seu sorriso de libertação.


Proeminente

Versejo idéias, sentimentos, apreensões.
Imagens em palavras, traço
a batida da vida minha,
pra lá da luta do dia-a-dia.

Da vida busco só o bem:
pura atmosfera,
água cristalina,
a polpa do fruto,
um ninho firme.

Do amor construo.
Do amor que é o bem;
do amor que é beleza;
do amor que é simplesmente amor.

Onde tudo é mar,
prezo-me no equilíbrio,
aprumando-me na leveza
pra não afundar,
resistindo na força,
adquirida na fraqueza.
Fiz-me todo recusa,
abnegação.


E seguindo com o tempo,
palavra e voz firmadas
no bem estar prossigam.

E uma verdade poderosa,
que ainda no mundo é,
com todo seu poder,
se revele proeminente.




Via láctea

Musa amada,
minha estrada!

Meu fim que principia,
meu sonho infinito;

tudo muita poesia,
tudo muito bonito.




Tormenta na memória

Amou,
enlouqueceu;

como quem colheu
do que não plantou.

Da tormenta na memória
se inspira;

como quem se explica
do que não entende.


Insônia

Desde o primeiro momento
de desencanto,
já adivinhava que viria,
à noite,
sua ausência a preencher meu mundo,
no escuro,
a sufocar minha calma.

Corri
como quem foge da noite longa,
mas,
que já havia me alcançado,
instalando o medo
de sonhar uma verdade
criada ao acaso
do mistério do sonho,
onde me encontraria
fora dos meus domínios.

Dormir
seria abrir os olhos
para dentro de mim,
assim,
conturbado.

Minha ânsia era inexistir,
sumido no sono,
entre a noite e o dia,
reconstituir o momento partido
em que me abandonou a razão,
entregue à loucura deste sentimento
que me causa insônia.



Baby menina

Baby menina,
jeito provocante,
atrações desperta;
andar balançante,
robusto busto,
belos quadris;

pernas torneadas,
perfeita silhueta;
da libido
faz sonhar
impossíveis
para desfrutá-la
além dos limites.
Minha sincera admiração
não se contém em mim,
e se reveste
em enlevados elogios
à sua singeleza,
à sua beleza
de mulher.

Você é
monumentalmente graciosa.
Cativa o olhar;
exalta o peito.
inspira o amor;
inspira versos;

Inspira versos de amor.





Querer obsessivo

Querer obsessivo
mata e morre por seu amor.
Querer obsessivo
se pudesse criaria
uma lei que obrigaria
seu amor a viver consigo.

Querer obsessivo
quer seu amor
a vida inteira
e só por seu amor se interessa.

Querer obsessivo
é loucura
cuja cura
é o seu amor.

Querer obsessivo
faz triste um cidadão:
tanto querer
sem ter...






Desilusão de amor

Desilusão de amor
chora em público
após o desengano.
Foi triste o fim.

E se maltrata;
e se vicia;
e foge de si;
e se compadece de si;
e suspira “ais”;
e se consola:
“tantos sofrem por amor”;
e se alenta:
“tudo nem tão mal”;
e se alivia:
cultiva a esperanças:

“quem sabe terá algum dinheiro?
Quem sabe o tempo durará?
Quem sabe não seja ficção?
Quem sabe encontre salvação? “

Desilusão de amor
tornou-se obstinado:
faz altos planos,
de altos voos.

Porém não acalenta outra ilusão:
“Um dia tudo terá fim.
E depois do fim
o que será?

Eterna noite de sono sem sonho?
O que dizem uns?
O que dizem outros?

Quem sabe vem ainda o Sol,
a vida,
o grandessíssimo amor !
Tudo outra vez...
Sem mais desilusão,
nem dor;
o eterno amor”





O mais verdadeiro amor

Você é um sol,
e está para me queimar,
até onde eu,
como Ícaro,
alço voo
rumo à conquista
da luz.
Mas como amo,
te amo.
E o meu amor
toma a dimensão de infinito,
fazendo-a solta
no espaço,
a tremeluzir
na ânsia
de encontrar,
no que ilumina,
onde procura,
o que procura,
através de mim,
na Terra:
o que lhe descortino:
o mais verdadeiro amor.




Cantando

Fissurado,
indignou-se;
atormentado,
rebelou-se.

Enlouqueceu,
demais até.
Porém sabe
que acontece.

Degradou-se
quase totalmente.
Quem se importa?
Vive sobre seus pés...

Sonhando, caiu.
Arrastou-se
até Cristo.
Então levantou-se.

Foi-se embora,
sedento,
lembrando,
cantando.





Canta, cantador !

Canta, cantador!
Canta a dor!

Canta em lamentos
sofridos sentimentos!
Denuncia as maldades do mundo,
que sabe de sofrer profundo!

Faz couro com companheiros
que sabem por inteiro
o que é sofrer esse mal,
em abandono quase total,
não fosse pela luz
que no fim do túnel reluz !

Por isso canta a esperança,
e também por fim a bonança!

E seus versos embola
com as cordas da viola,
em tão íntima harmonia
como o sol e o dia!

Canta sonho e realidade,
tudo na base da verdade!

Canta suas emoções,
que toca os corações!

Canta tudo o que é saudade,
e tantas mentes invade!

Canta do fundo do mar,
tantos peixes irão lhe escutar!

Canta de dentro das matas
qual pássaros em árvores as mais altas!

Canta do alto firmamento,
qual a estrela do seu invento!

No seu canto metaforiza
o que se poetiza,
o que não se diz cruamente,
o que se projeta da mente!

Canta a dor
do amor!
A desilusão
da paixão!
Canta com a velha alegria!
Tempera com fina ironia!

Canta como venceu pelo seu amor!
Canta como tudo se passou !




Contemplando azuis

De frente para o litoral,
contemplando azuis,
do oceano,
do céu,
divididos pelo horizonte,
peixes a saltitar;
aves a sobrevoar;
longe, uma embarcação a deslizar;
longe, um avião a riscar,
seu coração,
ávido por coerência,
adepto a simetrias,
como por fazer sobreviver a cultivada beleza,
qual sincronia de felicidade,
buscando correspondências exatas e positivas
para desatinos irrecorrivelmente praticados
por seu corpo, quando sacudido tão inesperadamente,
se põe a indagar
ao mar, ao céu,
o que é viver, o que é amar...

E tudo o que alcança do mar a responder
são peixinhos ornamentais, monstros marinhos;
navios naufragados, profundos abismos;
furos nas pedras e o barulho das ondas;
as pérolas resguardadas das ostras...

E tudo o que alcança do céu a falar
são os cometas que vem e vão;
estrelas que caem;
aspectos ora belos ora tenebrosos que assume;
o que nunca se saberá
dos mistérios
da infinitude do espaço afora...



Para amar demais

Amar demais,
e sofrer e chorar;

amar demais,
e desesperar, e enlouquecer;

amar demais,
e não esquecer;

amar demais,
e mais ainda amar.



Meu amigo Dom Quixote

Ó meu amigo Dom Quixote,
influenciado por livros tão sutis,
como sinto e compreendo teu sofrimento:
caminhar tanto, andando pelo mundo;
dormir ao relento, mendigar, pregar no deserto...
Tanta humilhação, chacotas, porradas...
Enlouquecer tentando entender as armações;
pagar tanto mico na paranoia alucinada;
na ilusão do amor de uma tal Dulcinéia,
e de que as pessoas o veem como pensas ser:
cavaleiro andante ordenado;
senhor tão valente, temido e poderoso,
a proteger as donzelas, as senhoras,
os fracos e oprimidos;
consertando o mundo,
com seu fiel escudeiro,
que conquistastes no que tem de tua loucura,
na tua ambição de poder, glória e fama.
Herói de tempos idos,
mas sempre retornantes,
pois sempre haverá quem ama,
quem tenha tais ideais,
quem se revolte e se indigne
com tanta coisa errada do coração do homem.

Pior que te pesam na conta dos teus humanos erros:
teus furtos, tuas transas erradas,
tuas drogas e na decadência em que tu te afundas.

Mas tens filosofia:
traz o sol de todo dia.
E seguro em teu verbo e altivez,
e em alguma coisa como teu cinismo,
fazendo usufruto da misericórdia de Deus,
tu vais armar teu circo
e encontrar outro palhaço sonhador desesperado,
que qual o Sancho Pança
sonha governar uma ilha.

Mas tem filosofia:
traz o sol de todo dia.




Os dias de cólera

Você é louco.
Sua arte reflete você:
muito louca.
Mas é arte:
tem beleza,
vida.

Sua boa pessoa é doida;
doída,
por conta daqueles dias
que deixastes para trás,
vivendo os seus novos dias,
que a lucidez de um momento
lhe iria reservar;

sua boa pessoa é incompreendida
pelos que não conhecem a loucura,
e assim não conhecem os novos dias.

Mas você sabe que não é louco.
No fundo, no fundo, há quem o saiba.
Talvez tenha alguma minhoca na cabeça,
encucação daqueles dias de cólera,
mas nada que altere o seu amor...
Altera quando muito o seu humor.
Corre o risco de ter algum inimigo oculto...

Mas não adianta pensar,
ter medo,
se preocupar...
Manda ao inferno a paranoia.

Você sabe que há amor na natureza,
que há amor no mundo,
e que para viver melhor
terá que acreditar nas pessoas,
que mais haverão de serem boas,
no caminho de luz
por que deve seguir.
Viva você
o que tem a fazer.
Se busca ainda
realizar seu ideal,
não se preocupe
com dinheiro
muito ou pouco;
deixe-se ser
sentimento a fluir
do seu viver,
sem ter de reclamar,
se lamentar,
se defender,
se explicar,
tentar convencer;
sem se preocupar
se se mostra, se é aceito.
A vida não pergunta,
apenas existe, e pronto.
E não se preocupe
em ensinar,
apenas deixa subentendido
o que aprendeu.
E lembra que sempre soube do fim.
Até melhor assim:
tem vez que fica tudo mesmo ruim.

E lembra que a vida é assim.



Um aspecto do panorama sub-humano

Homens nus
vão a outros desnudando:

ninguém quer estar só
nem parecer errado.



Pensando velho

Se velho um dia eu chegar a ser,
como tal, eu não quererei ser
rabugento, macambúzio, mal humorado,
resmungão, intransigente, mal amado.

Também como velho não quererei ser
implicante , intrigante, frustrado,
nem tão pouco também vou querer ser
pessimista, caduco, esclerosado.

Saberei até ser um velho solitário,
se viúvo, mas não caduco e gagá;
muito menos presunçoso e autoritário,
intolerante e prepotente no lidar.

Desejo morrer após ficar doente,
e se no meu enterro vai ter muita gente,
se terei homenagens, se discursarão,
o que importará a esse defunto então.

Mas antes bons prazeres quero curtir,
de petiscos deliciosos me servir,
célebres músicas clássicas escutar,
finos charutos e vinhos degustar.

Dos meus anos de velhice quero deixar
as melhores impressões de se lembrar.
a todos, aos meus e aos chegados,
e a tantos a que se lhe fizerem relatados.

Não quero filhos por herança a brigar,
se eu vier a ter bens de valor a deixar,
mas que bem destinem, no meu descanso,
meus móveis e minha cadeira de balanço;

mas gostaria que guardassem como seus
as músicas, os filmes e os livros meus,
e se não quiserem minhas roupas e sapatos,
de que os deem aos carentes eu fico grato.

quanto ao meu álbum de fotografias,
que fique esquecido eu não queria,
mas que de vez em quando fosse revisitado,
sendo motivo para um bom proseado.

De missa do sétimo dia não faço questão.
Mas que seja mais um dia, se encomendada,
de reencontros e confraternização;
de abraços, risos e mãos apertadas.

Meus filhos, desejo-lhes que fiquem bem,
e que tenham assim um bom futuro,
com toda qualidade de vida também;
com almas, corações e pensamentos puros.

e a todos que me estimam enfim,
quero que quando lembrarem de mim,
não o façam com tristeza porque morri,
mas com alegria porque vivi.







Alvoraça a vizinhança
meu vizinho.
Potente voz interpretativa,
já não canta apenas no banheiro,
mas agora também no quarto,
na sala,
no quintal,
na frente da casa,
na rua.

Amacia ideias,
suscita compreensões,
em lampejos elucidativos.

Exótico,
não se duvida da sua genialidade,
do seu fortíssimo gênio.

Brilhante,
não pouco.

Transa uns papos-cabeça
numas letras herméticas.
Parece viver tudo aquilo,
cantando no contexto.
Eloquente, destemido, irreverente,
qual mordido de cobra,
mostra-se por vezes em muita indignação.
Parece predestinado.

Às vezes é intolerável, impulsivo, brigão;
mas porque é espontâneo.
Mais das vezes é incompreendido.
Amor, sei, tem demais.

Meu vizinho não é nada.
Não é famoso;
não é ídolo,
nem se sabe se será.
Mas já sou seu fã.



Estrelino

A tristeza em Estrelino se instalou
funda, plena e definitivamente.
Tão grande era a sua tristeza,
que era quase como uma morte;
tão grande que para contorná-la
seriam milhares de quilômetros,
e chegar além do fim do mundo
para encontrar um sorriso.
Imagine então o quanto é grande
a tristeza que em Estrelino se instalou.

Conhecemos alegrias e tristezas,
entre as quais vamos passando os dias,
experimentando esses opostos sentimentos,
grandes ou pequenos,
mas passageiros,
pois relacionados a fatos
que acontecem no dia-a-dia:
se ganhamos um prêmio, por exemplo,
ou se perdemos algum dinheiro.
São alegrias e tristezas
que com o tempo passam.
Porém a tristeza que em Estrelino se instalou
era funda, plena e definitiva.

Às vezes supervalorizamos
a nossa alguma dor,
sem conhecer aquela
que é a razão
da tristeza de Estrelino.
É maior, bem maior.

Eu convivi perto de Grande Tristeza.
Nos avizinhamos,
e eu quis saber a dor
de Grande Tristeza,
e descobri o motivo da tristeza
de Grande Tristeza,
também plena,
também funda,
também definitiva,
apesar de que ainda conservava
uma alegriazinha,
mas pequenininha,
mesquinha.
Talvez Grande Tristeza quisesse
que me tornasse triste como ela,
e quase que a mesma sua dor
eu a fazia pra mim também.
Mas o fato é que
a alguma alegria que existia em mim
tornou-se menor após conhecer
Grande Tristeza.
Mas ainda assim a tristeza
de Grande Tristeza
não é maior ainda
do que a que em Estrelino
se instalou funda, plena e definitivamente.
E voltando a Estrelino,
caminhos tortuosos
o arrebataram
e o levaram a tornar-se
na tamanha tristeza em que veio a viver.

Se existem pessoas
alegres ou tristes
na própria natureza em si,
por uma própria propensão,
sendo congênito,
não anula o fato
de haver a tristeza,
que se instala funda, plena e definitivamente
adquirida de um acontecimento tal;
assim como existe a alegria
que também se instala
plena funda e definitivamente
adquirida de um acontecimento tal e qual.
Se por merecimento ou não,
nestes versos de agora
não se entra
no mérito da questão.

Estrelino era propenso à alegria.
Aquela alegria tanta e ingênua,
não sendo aquela alegria
com conhecimento de causa,
funda plena e definitiva.
Mas tinha uma tristezazinha também,
que a propensão à alegria
não exclui totalmente a tristeza,
bem como a propensão à tristeza
não exclui de todo a alegria.

Então Estrelino,
sabendo do valor positivo da alegria,
jamais se conformaria em seu coração,
de ficar com o valor negativo da tristeza,
que se lhe instalou
plena, funda e definitivamente.
Muito sonhou
em reencontrar a alegria,
e decidiu que iria contorná-la,
encarando os necessários
milhares de quilômetros;
e foi encontrar um sorriso
além do fim do mundo.
Sua grande sorte no amor.


E fez ainda Estrelino
a sua alegria vingar no mundo.

E quem vê em Estrelino
a alegria que se insinua
não imagina a grande tristeza
que dentro dele já habitou,
e acredita na alegria,
na alegria pura e simples.

E quem sabe da grande tristeza
que plena e funda
se instalou em Estrelino
admira-se da alegria que ainda
ele viera a conquistar, apesar de tudo.

E àqueles que ficaram na tristeza
que semelhante dor causa,

os cantos de Estrelino,
de onde lhe resiste ainda uma ponta de tristeza,
lhes servem de consolo,
desde que na causa de tão grande tristeza
está um grandessíssimo amor.



Pensando sobre o mundo

Pensando sobre o mundo,
tomo-o num afã de determiná-lo.
Num momento se me inquire,
e devo usar de arte e filosofia;
e devo irrecusavelmente
buscar a resposta mais simples,
e que me atenda a expectativa,
libertando-me do entrave
satisfatoriamente.

No puro raciocínio,
já sem mais tentar uma solução,
abdico resignado
desta complexa empreitada,
concluindo pobremente
que o mundo é gente chegando,
é gente indo.

Assim chegam; assim vão.
E entre chegada e ida,
viver as emoções,
os sentimentos,
entre prazeres e dores
concernentes ao próprio viver.

O mais é o que se sabe,
é o que se ignora,
o que se pode ser,
o que se resta ser.

O mais são crenças, esperanças...

O mais é o que vem. 



Dia-a-dia

Enquanto
do
que
quero
nada
posso,
escrevo
versos.

Emersos
poemas
onde
tanto
relevo
da
vida
assim.



Brincam ideias nas palavras


I

VICISSITUDES


SE DIZ

“VI TU.”

SE DIZ.

SE TU...

VI TU.

TU
VI.




II

CRIAÇÃO

DEUS CRIOU O HOMEM
CRIOU O HOMEM DEUS
O HOMEM DEUS CRIOU

DEUS O HOMEM CRIOU
CRIOU O HOMEM DEUS
O HOMEM CRIOU DEUS


III

HÁ LÁ

HÁ BIDU LÁ
HÁ LÁ BIDU
BIDU HÁ LÁ
BIDU LÁ HÁ
LÁ HÁ BIDU
LÁ BIDU HÁ


IV

NENHUM

SAPOTI TEM UM A;
MANGA, DOIS;
ARAÇÁ, TRÊS;
CAJARANA, QUATRO;
E JERIMUM, NENHUM.



V

ALI EM NADA


NADA



ALI EM NADA.

NADA

HÁ.


ÁLIEN, NADA;

HIENA,

NADA.

NADA



ALI.

ALI NADA

LI.

NADA

ALIENA.




VI

QUEM AMA

QUEM AMA A VIDA AMA
AMA A VIDA QUEM AMA
A VIDA AMA QUEM AMA
AMA QUEM AMA A VIDA

QUEM A VIDA AMA AMA
AMA QUEM A VIDA AMA
A VIDA QUEM AMA AMA

QUEM AMA AMA A VIDA



A guerra imunda


A guerra imunda
o terror infunda:
violência furibunda,
da ignorância oriunda.

De segunda a segunda
tristeza moribunda,
política nauseabunda,
revolta vagabunda...

A dor abunda,
em pranto afunda,
a alma inunda.

Mas uma esperança funda,
nesta paixão profunda,
quem o amor fecunda.




Espiritual


Refletindo a civilização
no contexto,
o que não é menos do que um exercício
espiritual,

admira-me magníficos feitos,
dos quais o prodígio humano
é capaz de protagonizar:
descobertas, invenções...

E que, porém, primitivos instintos,
rudezas selvagens,
muito ainda trazemos
das cavernas.




Utopicidade

Sonhei a humanidade
promovendo a igualdade.
Uma justa comunidade
na base da solidariedade.
Que mais festejada novidade!
Que mais empolgante felicidade!
Que mais pacífica liberdade,
a permear em cada cidade!

Mudou-se a antiga realidade,
desde a atualidade,
por toda posteridade.

Era um bem de verdade:
todos com prosperidade
na base da fraternidade.

A graça da benignidade
fez nobre a sociedade.
Todos com dignidade.
E resultou melhor validade:

atenuou a maldade,
assim como a criminalidade,
que gerava tanta mortandade,
tanta hediondidade.

Fez-se uma só irmandade
semeando a amizade,
patrocinando a bondade

Sem os conflitos da materialidade,
cultivou-se a espiritualidade,
iniciando-se uma nova idade.



Como o sol é o amor

Como o sol é o amor:
fogo vital,
poder divino,
tanto eterno, e mais:

corações ilumina;
pensamentos;
almas;
transcendentemente.

Luz universal,
pulsações intermitentes,
energia incessante.

Renascentemente,
dissipador de trevas,
é ouro, é astro, é rei.


Visão

O Halley passava;
os discos eu avistava;
voar eu tentava.
Ah! Como eu sonhava!

Um vento forte me perturbava:
inflamado me inflamava;
meu castelo desmoronava.
Eu me desesperava...

Tudo o que eu amava,
o vento carregava;
minha vida transtornava;
meus segredos espalhava;
a roseira queimava...

O vento em casa entrava;
meu cabelo arrancava;
meu caminho entortava;
minha paz me lavava;
pelas ruas me levava...

O mar como nunca se levantava;
um tempo cruel se mostrava;
o mundo em volta se transformava;
tudo medonho ficava.

Por um fio eu estava;
o desejo me cegava.
Mas você me sorriu
e meus olhos abriu.




Iluminado e o tenebroso portal

No sonho em que a realidade
da vida de Iluminado se tornou
quando se fez o pesadelo,
de repente deu de cara
com um tenebroso portal,
que a todos fariam
fugir horrorizados.
Mas Iluminado
pelo tal portal
sem nem pensar adentrou.
E foi um caminho
tomado sem retorno;
e daí então
encontrou muita tristeza,
e tantas mais que vieram,
e mais e mais.

Mas só seguindo
por este caminho tomado
Iluminado pode encontrar
um atalho que deu
num tão misterioso lugar,
onde encontrou
todo o bem que desejava,
ainda que se tivesse feito
tão distante no tempo
quanto no espaço.

E assim chegou ao melhor da vida,
onde seu prazer infinito se tornou;
e deleitoso seu pensamento;
preciosas suas palavras;
cristalina a sua voz.
Da força para vencer sua luta,
alcançou a consumação.
E daí ele só dispõe,
desfruta,
usa
e abusa.

Tornou-se um sonhador
de sonhos e desejos realizados,
em lentes transcendentes
na dimensão do real.

Mas foi tudo
desde que sua realidade
em sonho se tornou,
e o sonho
se tornou em pesadelo,
e no pesadelo se afigurou
o tenebroso portal
pelo qual adentrou
sem pensar. 


Era

Era sua vida
infernizada num pavoroso mundo;

era a morte
rondando agigantada
em seus funestos mistérios;

era seu coração
torturado no desejo;

era seu ser
angustiado em dilemas;

era sua mente
atormentada em perturbações;

era seu amor
sem alento para se consistir;

era seu sonho
sem asas a se fenecer.

Era...





Tudo de bom


É ,
deixa que eu veja a vida
em sua verve esplendorosa, maravilhosa, dadivosa.
Não! Não quero atentar para a morte,
em sua face apavoradora;
em sua sanha aniquiladora.
Eu sei que a terra me espera aniquiladora
da minha carne que consumirá aos vermes,
ou seja em cinzas transformadas pelo fogo;
que sobre esse mesmo chão rastejam serpentes,
que nos acometem com seus venenos letais.
Mas prefiro voltar meus olhos para o céu.
Não o céu do assombroso aspecto,
quando torna-se disforme
em cinzas escuros e brancos maculados,
em estampa tenebrosa
e de movimentos sinistros,
pelos ventos confusos invernais;
nem o céu de figuras apavorantes
que se formam de fumaças
ante nosso ser espantado
e fragilizado no ermo do mundo,
caminhando ao desabrigo;
muito menos o céu que se explode
em raios mortais,
no horripilante e pavoroso
barulho de trovões,
mas aquele do sol fulgurante,
que irradia o mais belo azul
e o mais branco alvor das nuvens;
mas o céu das estrelas cintilantes,
da lua rebrilhante.

Eu quero manter os olhos postos no mar.
O mar das ondas suaves,
das velas brancas,
das cores deslumbrantes,
do horizonte belo.
Eu sei que o mar
nos pode remeter a tétricas visões,
de águas revoltas em tempestades;
de naus naufragadas;
de apavorantes presas
e malévolos olhos de tubarões;
de corpos afogados a boiar.
Mas prefiro ter só à minha visão
o mesmo suntuoso mar ,
do distintivo azul, das tranquilas águas.

A cidade grande é fascinante, sim,
em seus prédios insensíveis e estonteantes;
em seu asfalto da mais áspera dureza;
em seu trânsito azucrinado, louco, fatal;
em sua profusão de multidões em movimento e pressa.
É admirável o quanto o homem é capaz,
como ser que é.
Mas eu prefiro ter meus olhos voltados para o campo,
das matas de variadas matizes de verde;
das flores das belas borboletas;
dos passarinhos de maviosos cantos.

É claro que há pesadelos, desencantos, desesperanças,
que consequentemente há
corações fechados e endurecidos.
Eu prefiro estar sintonizado nos lindos sonhos
de desejos realizados; de anseios alcançados;
dos corações abertos e repletos.
Eu tenho os olhos votados para a aurora,
das folhas, das plantas viçosas molhadas de orvalho;
dos primeiros pios dos pássaros.
Nada de tarde vazia, de tédio e mormaço;
de tristeza a se estender ao crepúsculo melancólico.
Quero o dia, do encanto da flamejante luz
que irradia exultante.
Que nada de noite de denso breu aterrador.
Que fiquem meus olhos postos na luz
a invadir-me pelos olhos o corpo e a mente,
iluminando-me o coração e os pensamentos;
não na escuridão que os façam sombrios.
Quero meus olhos voltados para o amor.
Seja o amor de Cristo, dos bons, dos animais, das crianças;
dos corações resplandecentemente sedutores.
Não quero nada de saber que existe a guerra,
das ideologias, das fardas, das bandeiras,
das facções, das vinganças;
dos corações armados a envolver, a intimidar...



Deixe meus olhos voltados para o som
das notas musicais em doces e harmoniosas palavras.
Não quero saber do silêncio das bocas tolhidas
e comprimidas em constrangida mudez.
Quero sentir em mim só o bem,
da beleza, da candura, da fonte do prazer;
dos rebrilhantes anjos.
Não quero saber do mal,
da vileza, da ardilosa maldade.
Quero meus olhos lançados não para o ruim,

mas para o que é bom.
Não, não quero saber de lágrimas,
mas sim do vasto e poderoso sorriso.
Não , não quero mais ver, nem sentir
o negativo, o ruim , o feio.
Não, não mais.




Uma alma

Uma alma aprisionada e imolada
debate-se sinistramente aguilhoada,
má suspeitadamente envolvida
em árdua e conflituosa lida.

Projetada em relutante enredo;
revoltada em intrigante segredo,
situações nunca antes imaginadas,
assim vivia oprimida e angustiada.

O amor tornara-se em maldição,
e pelo que se conteve no coração
deu seu ser a esta revolta vazão;
irrompendo-se em brados irreverentes,
pela incursão ao triste dilema de repente;

libertando-se em gritos de desvelação,
desvendando natural revelação,
pela humana razão.
Até mesmo por demais amar na vida,
que assim até se fazia bem mais compreendida.




João de Deus

João de Deus nasceu numa pequena aldeia
incrustada numa metrópole neste recanto de mundo,
e quando criança brincou suas brincadeiras

e seus brinquedos com seus irmãos e com os outros pequenos
daquela comunidade. Todos eram pobrezinhos,
mas unidos e solidários.

Apesar de às vezes doente, às vezes faminto,
João crescia feliz.

Algo que muito o marcou foi de ter visto pela televisão
o amor morrer.
Sonhava com estrelas douradas, peixinhos coloridos,
tão bonitinhos; borboletas deslumbrantes,
passarinhos lindinhos de cantos maviosos.

João de Deus foi crescendo e mais compreendendo
de onde vivia, do que via quando saía:
asfalto, muros, grades, prédios, metais, vidros;
movimento intenso, corre-corre de gente
apressada em vai-e-vem; barulho, agitação, trânsito veloz.
Mas, o que vivia mais eram momentos de paz,
tranquilidade e serenidade em sua comunidade.
Nem sempre saía ao centro da cidade.
Sua escola ficava pertinho do barraco dos seus pais.
Seu pai era um trabalhador de bem com a vida
Sua mãe, uma dona de casa, dedicada, prendada e prestativa,
como mais eram os bons casais do mundo naqueles tempos.

Havia alegria, felicidade mesmo.
João de Deus atentava para tudo.
todas as conversas, das visitas, dos vizinhos,
dos discos, do rádio, da televisão, das revistas, dos livros...
Tomava pé de alguma coisa aqui e ali.
Com outras não podia atinar: coisas estranhas,
de gente grande.

João de Deus já crescido,
mas ainda não vivido, iniciou-se em desenganos
de amores e sonhos, até sangrou, e depois mais.
Até sangrou o coração, rachando-se ao meio.
Desajuizou-se e foi engolido pela metrópole
em sua loucura.
Os momentos de tranquilidade, de serenidade,
foram sempre mais sendo invadidos
pelo barulho da metrópole.
Mesmo em casa, ressoava dentro em seus ouvidos.
E invadiu-lhe também um medo, muito misterioso medo;
e vivia sobressaltado, e em estado de alerta.
E teve pânico.


No que vivia de boa vontade, agora vivia de má vontade.
Restava-lhe o instinto de sobrevivência.
E tinha pesadelos: que vivia numa floresta,
entre terríveis insetos, feras predadoras,
tribos selvagens, rituais de canibais.
E era tudo sombras sombrias;
que vivia no fundo do mar,
escondendo-se de terríveis tubarões,
e de outros monstros marinhos.
E era tudo cinzento e feio;
que vivia num rio,
e nele havia muitas piranhas,
das quais vivia fugindo.
E já tinha sido mordido por muitas delas,
e pedaços do seu corpo
já lhe haviam sido arrancados.
E era tudo turvo...
João de Deus andava louco pela metrópole,
qual formiga desantenada.
Até que achou uma saída: uma longa estrada
pela qual se foi pelo deserto, a encontrar paz e silêncio.
E entre um deserto e outro

algumas outras metrópoles conheceu, até maiores...
E era um calor infernal durante o dia,
e um frio de ranger dentes durante a noite;
e grande era sua fome, e grande era sua sede.

E prosseguiu até que encontrou um oásis,
que se fez sedimentado e pleno dentro em si.
E também colheu uma flor num espinhoso cacto.
E esta se fez um selo de amor em seu coração.

João de Deus voltou à metrópole e foi viver
com as estrelas doiradas, os peixinhos coloridos,
as borboletas deslumbrantes,

os passarinhos de cantos maviosos,
e apesar da barulheira da metrópole
cada vez mais intensa,
João de Deus havia reconquistado em si
a serenidade , o silêncio e a paz,
e voltou a viver de boa vontade.

Na verdade João de Deus viu
que na verdade o amor não morreu,
e assim o fez reconduzido.



Iluminação

O sol ilumina
o que aqui é:
natureza, vida.

Sua luz tenuemente
a lua reflete ao rés do chão
na esfera da noite sideral;

estrelas reluzem seus brilhos;
corações pulsam seus sentimentos.
Reluzentemente pulsam;

e é tudo espetacularmente incrível;
inexplicavelmente real;
maravilhosamente em nós.



Árvore

Inseparável filha terra,
quem te entende a solidão
de tão intenso viver,
a expressão do teu silêncio,
o valor da tua passividade?

És tão pura natureza;
és tão parte da vida
na sua dadivosa existência,
na sua sublime forma de ser.

Amo-te
como os pássaros
que te tens como abrigo,
como refúgio acolhedor;

valorizo-te
como um andarilho
que descansa à sua sombra
do cansaço e do sol escaldante;

quero-te
como um faminto
que se sacia
com os frutos que ofereces;

contemplo-te
como um sonhador
que se exulta com a paisagem
em que te destacas magnífica.




Asas do Paraíso

I

Passarinho,
lindo ser,
asas do paraíso
nas cores da natureza;

vida voo,
vida canto.

Som ambiente da mata,
inspiração de liberdade,

fuja da maldade do homem,
do veneno da serpente,
do vexame da armadilha,
da penúria da prisão !

Inspira com seu voo
o homem ter asas,
construir avião,
asa delta !

Passarinhos,
lindos seres;
ninhos e filhotes;
asas do paraíso,

singeleza encantadora,
canto cativante,
inspira-nos a cantar,
a amar a natureza.


II

Passarinho, canta!
Mesmo triste, canta passarinho!
Chega mesmo a chorar, passarinho,
mas canta!
Canta a esperança também.
Canta a alegria.
Louva a vida, passarinho!

Canta triste,
chega mesmo a chorar, passarinho!
São tantas e terríveis serpentes...
Roubam-lhe, devoram seus ovos, sua cria;
há estilingues e armadilhas de prisão,
sujeição a que te acostumas, passarinho,
quando não morres,
mas à qual sempre preferes o seu livre viver.

Mas canta, passarinho!
Canta a esperança também.
Existem anjos
que cuidam por um melhor viver
pelo bem do seu mundo, passarinho;
para que viva toda a plenitude
como bem mereceste da natureza, passarinho!

Canta a alegria, passarinho!
A natureza o escolheu
ser o mais sublime entre os animais;
regozijar-se com seu canto;
e para o espírito do homem encantar.
És a própria música na natureza;
linda harmonia com toda a beleza.
É tão maravilhoso voar,
ser bonitinho, passarinho!

Louva a vida, passarinho!
A natureza é bela
no verde que te envolve,
dando-lhe o alimento;
onde fazes o seu ninho acolhedor;
no céu imenso para conquistar;
na água que afoga sua sede;
na existência de tantos outros passarinhos
de cantos diferentemente divinos.

Passarinho, canta!
Mesmo triste, canta passarinho!
Chega mesmo a chorar, passarinho,
mas canta!
Canta a esperança também.
Canta a alegria.
Louva a vida, passarinho!


III

O que pode mais um pássaro fazer
além de voar,
fazer ninhos,
e dar crias?

Cantar.

Ainda que preso,
ainda que triste,
ainda que morto,
cantar;
assobiar;
chilrear;
estribilhar;
gorgear;
palrar;
piar;
pipilar;
ralhar;
redobrar;
soar;
suspirar;
tintilar;
trinar;
vozear;
...



Primaveras

A primavera é beleza.
Viva a natureza!
Estação querida;
festa da vida;
encanto o ar;
tempo de amar.

Alegrias tantas
nas viçosas plantas;
nas belas flores,
em formas e cores.

Singelas borboletas
realçam perfeitas;
mágicas, admiráveis;
metamorfoses notáveis.

Ao sol luminar,
a Terra, nosso lar,
pelas preciosas sementes,
nos dá o verde previdente.

Que tudo favoreça
e assim aconteça:
primaveras pela eternidade
a renovar a humanidade,
em toda mente, todo coração,
até a plena perfeição.




O magnífico mar

Arte e poesia vive a inspirar
a contemplação do magnífico mar.
Invade a mente, a alma, o coração, o mar.
O mar de banhar-se, mergulhar, nadar...
O mar, em movimento constante;
o mar, amado gigante.
O mar da presença inteira;
de se caminhar ao longo de sua beira.
O mar a se nos interrogar...
O mar das coisas do mar;
o mar de magia e sedução;
o mar da relevante paixão.
O mar dos temores, das lágrimas, dos lamentos;
dos receios, dos afogamentos.
O mar que tira da vida tanta gente.
O mesmo mar dos sobreviventes.
O mar da brisa, da maresia, das praias, dos coqueiros...
Das algas, dos mangues, pedras, despenhadeiros.
O mar que banha o mundo.
O mar de densas trevas, de abismos profundos;
o mar das lendas; das sereias; de incríveis histórias;
de piratas, aventureiros, heróis e glórias.
O mar, inconstante, único, desigual;
da natureza um bem genial.
O mar. Esse tema a desafiar...
O mar da baía, o sereno mar;
o mesmo mar das procelas, das ressacas, da maré cheia;
das furiosas ondas, do mal estar; o mar que mareia.
O mar dos perigos; das braçadas; das duras lidas;
das correntes marinhas; de argutas mordidas.
O mar das Bermudas, de Atlântida, de tantos mistérios;
dos tesouros naufragados; de conquistados impérios;
o mar das plataformas, dos petroleiros, dos marinheiros;
dos fortes, das fragatas, dos guerreiros;
dos faróis, dos portos, das marinas;
dos estaleiros, das palafitas, das salinas.
O mar das ilhas, dos canais, dos golfos, das penísulas, do alto mar;
o mar de tanto lugar.
O mar onde os rios vão findar.
O mar da sinfonia do mar.
O mar das pérolas, dos recifes, dos atóis, dos corais;
das águas vivas, dos lindos peixes ornamentais.
O mar de aspectos os mais diferentes,
azul, cristalino, transparente;
verde, cinza, indefiníveis cores;
de matizes os mais encantadores.
O mar das sombras das nuvens flutuantes.
O mar, que às vezes rebrilha como diamantes.
Triste que lhe descarreguem lixo, esgoto, poluição;
que desastres ecológicos lhe causem degradação,
o mar maculado,
mas ainda o velho mar, sagrado;
o mar de vidas exóticas a abrigar:
polvos, cavalos marinhos, lagostas, búzios, estrelas-do-mar;
dos peixes diversos: merlins, golfinhos, narvais, tubarões,

[ baleias;
das tartarugas que nascem em sua areia;
o mar dos frutos do mar, dos anzóis, das iscas, dos pescadores;
dos remos, das velas, dos lemes, dos motores.
O mar dos icebergs, dos congelados mares;
dos leões marinhos, das focas, das morsas, das lontras, dos ursos polares;
O mar sobre o planeta a contornar os continentes;
à noite o realçam as estrelas reluzentes;
balança a luz do luar;
luzes de navegação sobre suas águas a piscar.
O mar, que, pelo sol, seu horizonte a cruzar,
proporciona belos poentes, o mar crepuscular,
e belas nascentes, o sol a despontar;
fazendo prateado, dourado o mar.
O mar das brancas espumas,
das infindas ondas, estrondeantes uma a uma;
o mar da monumental grandeza,
da inigualável beleza;
de paisagens sem par.
O doce mar.
Paradisíaco é o mar.
E as gaivotas a sobrevoar.



Horizontes

O por do sol é espetacular:
indo-se o sol horizonte abaixo,
proporcionando a maravilha crepuscular,
última réstia áurea de suave luz,
de doirada aura revestindo a natureza;
cândido tom ao fim da tarde,
de sombras alongadas;
a escuridão que se insinua
prenuncia luzes astrais.

O nascer do sol é pujante:
surgindo o sol horizonte acima,
desfazendo a escuridão,
trazendo a aurora,
primeiros raios de intensa luz;
o fogo do nosso firmamento
nos traz as cores da natureza,
revelando em suas cores
o céu, as nuvens, o mar, as matas...
Iluminando a vida.



Estrelas

Na penumbra do firmamento,
sobre a Terra a brilhar,
desprendendo pensamentos
que vivem a inspirar;

pulsam cintilantes,
invadem mentes;
preciosos instantes,
duram eternamente.

Ouço sempre estrelas,
e é um pouco tê-las.
E até por merecê-las
em seu brilho reluzente.

É mesmo um tanto sê-las,
e assim compreendê-las,
vendo nelas ao lê-las,
o que minha alma sente.

Tornadas no universo envolventes,
deslumbrando olhares, encantando a gente,
quais misteriosas mensagens silentes,
são fascinantes em sua prata tremeluzente.

Tal qual o esmero da natureza ao concebê-las,
imprimindo-lhe o brilho que lhe é assente,
por minhas mãos, meu coração, inspiradamente,
busca não menos engrandecê-las.



Flor de primavera

Flor de primavera,
jóia preciosa;
diamante lapidado,
estrela fulgurante
de brilhante encantador
no céu azul marinho
acrílico de verão.
Tens o dourado do sol,
o prateado do luar
no mar refletidos.

Ver você
é ver peixinhos ornamentais,
pacíficos, sinuosos,
dentro de tranquilas águas;

é ver aves coloridas
de cantos maviosos
e voos graciosos
na limpidez do azul celeste
com nuvens de algodão;

é sonhar
um mundo bom e sublime
perene e contemplativo
como se sonha
nas religiões.





Tão grande

Naquela casa
a miséria se fez tão grande,
mas tão grande,
que até o relógio de parede,
na parede,
parou.



O retirante

Lá vai o retirante,
expulso do sertão
pela seca
do Nordeste do Brasil.

Lá vai o retirante,
deixando a terra natal
que aprendeu a amar,
e seu pedaço de terra,
que apoiou seus joelhos
nos momentos de súplicas
por dias de chuva.
A terra que tanto arou,
que tantas sementes fecundou,
d’onde tanto verde já brotou,
d’onde muito o pão já tirou.
Quanto tempo faz...

Lá vai o retirante,
deixando a terra onde cresceu,
que fica sob o firmamento
que acostumou-se a contemplar.
Vai lembrando saudoso
bons momentos vividos
na terra que agora deixa.
Lá vai o retirante,
deixando o torrão torrado,
galhos sem folhas,
sem pássaros...
Acabada a comida,
acabado o dinheiro,
acabado o fiado,
sem serviço...

Lá vai o retirante...
Vendidas as tralhas,
vendidos os bichos,
sem comida também.
Após o pau de arara,
até a beira da estrada,
por onde agora caminha,
enquanto não vem uma carona.
“Quem sabe no posto de gasolina ?“
Vai até a cidadezinha
onde vai comprar passagem
para alguma capital,
São Paulo ou Rio,
onde será operário,
faxineiro, camelô,
qualquer trabalhador,
honesto e decente
e com força
haverá de vencer...

Lá vai o retirante,
no dia que nunca quis,
que sempre adiou,
pela esperança renovada
de a chuva vir pra ficar,
de o açude não secar...

Lá vai o retirante,
já descrente das promessas
dos homens engravatados,
que sabem falar bonito:
açudes quilométricos;

centenas de poços artesianos;
milhões de carros pipas;
canalizar água do mar...

Lá vai o retirante,
o semblante duro,
da força da decisão.
Semblante que oculta o sentimento
do coração partido
por deixar pra trás uma vida,
sonhos de alegrias,
de alguma angústia;
pela incerteza do futuro.
A camisa de manga comprida,
quadriculada, do São João;
a calça um tanto curta,
mostrando os pés sem meias;
sapatos de grossos saltos,
a mala de couro surrada.

Lá vai o retirante
levando sua mulher,
semblante passivo da resignação;
de quem aceita o que vem da vida.
Companheira de luta,
fiel na alegria e na dor.
O vestido de chita desbotando
sobre a barriga proeminente.
Parece vir mais um no ventre...

Lá vai o retirante
levando seus filhos,
pedacinhos de borracha
sob os pés foveiros;
as roupinhas puídas...
Ainda conseguem brincar;
divertem-se com a novidade
da viagem ao desconhecido.
A alegria que vem da inocência,
que vem da ingenuidade.
Lá vai o retirante,
vencido pelo sol agreste;
jogando-se ao mundão

de concreto, de metal e vidro,
aventurando a sorte
de poder vingar-se
da sina adversa.

Lá vai o retirante...




Uma chuva

Venta forte,
levanta poeira;
protegem-se os olhos;
voam do chão folhas, papéis, plásticos;
nuvens pesadas, escuras, pairam.

Escurece.
Troveja, relampeja...
Apressam-se os passos.
Até um cachorro passa apressado.
Caem os primeiros pingos,
esparsos, grossos.
Guarda-chuvas se abrem,
sombrinhas coloridas...
Cai a chuva com vontade;
intensifica-se o vento;
acumulam-se sob marquises;
o trânsito torna-se lento;
os carros, vidros suspensos...
Limpadores de para-brisa movimentam-se;
ônibus lotados, vidros embaçados;
rios d’água ladeiam os meiofios;  
água acumula-se sobre bocas-de-lobo;
ruas inundam...
A água sobe,
sobe,
sobe...
O trânsito para.
Água sobe,
sobe,
sobe...
Água penetra nos carros.
Saem dos carros,
põem-se fora.
A água sobe,
sobe,
sobe.
A água entrou em lojas e residências.
Quase dois metros.
“Que prejuízo !”
Mercadorias estragadas;
mobílias prejudicadas.
Carros boiam;
são arrastados.
Gente nos telhados
aguardam resgate.
Vem barco;
vem helicóptero.
Alguns nadam.
“Quanta água!”
“Quanta água!”
“É dilúvio...”
“Por que a água
não vai pro rio,
que vai pro mar?”
“Nunca vi
a água subir tanto assim!”
“Que lixo!”
“Não se veem troncos de árvores boiando...”
Mendigos, menores de rua, desabrigados
estão a salvo:
puseram-se fora a tempo.
Mas houve vítimas fatais:
deslizamentos,
desabamentos,
desaparecidos na enxurrada.

No aconchego do lar
milhões veem pela televisão,
Já com certa indiferença
a notícia da enchente.
Há quem ache um espetáculo;
há quem ache até engraçado,
mas, “...notícia corriqueira”,
“...na ordem da normalidade”
“Uma chuva...”
Mas antes de passar os gols,
ainda passam políticos
blablabando.




Uma pintura do mar

Um pintor usa as cores materializadas na tinta,
exteriorizando na tela a sua expressão do mar,
buscando através dele a beleza máxima possível,
sacralizando tal grandeza,

reverenciando o gigante louvável
num gesto de declaração do amor do seu coração
a tal bem da natureza.

E como não dispor mais do azul

em matizes diferentes,
se é dia e acima do horizonte

o céu se apresenta em volta?
Por inspiração natural,

um talento genial,

um apuradíssimo dom,
numa virtuose descomunal,

o mar se apresenta fenomenal.


Fonte inesgotável de inspiração,
em quantas paisagens diferentes
em que se mostra o mar

estará mais que fielmente representado
pelas mãos hábeis de um artista perfeito
no intento de mostrá-lo melhor

do que visto o mar propriamente ?
Por transportada magia à pintura
o mar torna-se carregado de sentimento
pelo amor que lhe é transportado
no momento da criação.

A sua presença imponente,
neste ambiente planetário,
o artista atinge num momento
fazendo-a ganhar tamanha plenitude,

de infindável brilho.
O mar, o astro, a estrela em destaque,
despertando imediato encanto
graças a tão mágico aspecto
transportado à tela.

Presenças outras sugestivas
além do horizonte e do céu,
mais do que simples detalhes
enriquecem ali a presença do mar:
numa simbólica cena,
mostra-se um peixe no ar
com o corpo curvado em direção à superfície
daquele mar de onde saltara,
a boa distância, à maneira dos golfinhos;
respingos d’água lhe acompanham,
num toque de alegria nesta exposição;
na oportuna intenção de estimar a vida
a qual lhe é tão inerente.
E quem ama o mar
que não ame seus bons e belos peixes,
quem pode viver o mar,
ser do mar,
ser sua fauna,
ter sua flora...?

Mais distante vê-se uma ilha,
com sua vegetação,
em que se destacam coqueiros inclinados
e sua borda branca de areia,

a praia que lhe contorna,
onde quebram ondas intermináveis.
A ilha é a terra firme do mar.
A terra que o mar envolve,
e que nos envolve
em sonhos e fantasias de amor,
histórias, aventuras, imaginações...

Na perfeição da tela
quase se pode vê-lo o movimento incessante;
ouvi-lo em seus murmúrios e marulhos;
senti-lo em sua maresia salutar ;
tocá-lo em sua água suave ;
adivinhá-lo em seu gosto salgado
Pode-se mesmo meditar sobre ele,
e constatar no que nos ensina.

Pode-se ver também uma vela,
sobre aquele mar, deslizando,
sugerindo a presença humana
nos seus domínios gigantescos,
de onde tiram sustento,
fazem fortunas,
vencem distâncias,
colhem prazeres...
Mas também onde se morrem.

Sim, é também onde se findam.
Mas não é o mar melancólico
que ora se representa no quadro

nesta vívida tela,
mas o mar da alegria,
que faz exultantes os corações,
e contenta as vistas de quem nele mergulha,
neste azul exuberante,
que não se pode facilmente descrever.

Apesar de ser dia,
de mar e céu azuis irradiantes,
ainda que o sol não esteja ali enquadrado,
mas se vê reflexos da sua luz na superfície,
a lua se mostra
no fundo do azul do céu,
como muito acontece de ser.
A lua, da cósmica relação com o mar
- marés , fases, ciência, crendices.

Também ali vagueiam nuvens no alto do céu,
densas e brancas como as espumas,
as espumas da água deste mar.
Este mar imaculado
num quadro paradisíaco,
como é o mar.





Aquele sonho sublime


Sonhava o mais sublime sonho

quando um vendaval lhe adentrou a vida

e se instalou em si ruinoso,

desfazendo o lar da sua morada.



O vendaval lhe inflamou o desejo;

assim saiu ao desabrigo na aventura,

cruzando extensos desertos;

correndo acelerado por entre cidades.



Passando capitais reveses,

mas resguardando-se na consciência

para salvar-se ou perder-se de vez,

foram muitos recomeços de quedas.



A rosa dos ventos alcançou enfim;

d’onde ganhou asas e direção

à terra prometida, seu destino;

onde se encontrou, seu caminho...



Agora sua estrela brilha

na eternidade do tempo;

na realidade do seu sonho.

Aquele sonho tão sublime.







Um cara sonhador e obsessivo



Viveu para viver

o seu desejo a acontecer.

E tanto fez que conquistou.

O seu sonho realizou.


Correu e chegou;

lutou e ganhou;

prometeu e cumpriu;

se insinuou e surgiu.



Demais pensou que atinou;

meditou que se elevou;

procurou tanto que achou;

intentou tanto que passou;



E tanto tentou que conseguiu;

alcançou o que perseguiu.

Tanto quis que endoidou;

mergulhou e se salvou.



Buscou e encontrou;

se jogou e voou;

aprendeu e ensinou;

foi e ficou.



Se construiu e se mostrou;

se acendeu e iluminou;

se encheu e se esvaiu;

foi feliz e sorriu.







Um som soa

Um som soa,
não à toa,
ecoa,
ressoa;

ave que voa
em sua loa;
alma boa
que se doa
a qualquer pessoa;

Um som soa.
Tranquilo soa
qual pato na lagoa;
consolo soa
a quem se remoa;
da dor coa
a coisa boa;
do mal destoa,
no bem que apregoa.

Um som soa,
suave canoa,
ainda que doa
pelo que em si se roa.
Um som soa.
Há quem se condoa...
Um som soa,
chora e assoa;
potente, que rebimboa
mesmo lá em Goa;

Um som soa
suave garoa,
ideia boa,
como se o mundo aperfeiçoa.
Não há porque dele alguém caçoa.
Ou há...

Palavras de verdadeiro amor

Encantado foi um cara de sorte.
Foi felicíssimo no amor.
Tanto amor tinha para dar,
e deu.
E tanto deu quanto muito mais recebeu.
E recebeu do amor muito mais do que esperava.
Mais, mais e muito mais amor.
E suas palavras tornaram-se

palavras de verdadeiro amor,
vivas, fortes, brilhantes.
Brilhantes como estrelas,
como diamantes.
Mesmo quando em silêncio
revelava-se em puríssimo amor.
Como o sossegado sono de uma criança.

E quanto mais de amor se enchia,
mais se fazia acreditar na vida,
como é das funções mais sublimes do amor.
Seus gestos e atos foram de puro amor,
e tudo é normal no amor,
desde que seja mesmo amor.
Vislumbrava todo o infinito possível
por onde se podia ir pelo amor.
E no amor seguia.
E assim ia...





Som e silêncio

Sagrado é o silêncio,
como silencioso é o pensamento,
é a contemplação;
a contemplação do universo,
do espaço sideral,
dos astros,
do sol,
da lua,
das estrelas.


Sagrado também é o som.
Como o das ondas do mar,
das cachoeiras,
das aves,
das folhas ao vento..
Sons naturais,
bem como sons musicais,
magistrais;
sons do amor.




Um mundo melhor


Um mundo
melhor seria:
sem maldade,
sem guerra,
sem dominação,
sem fome,
sem cigarro,
sem álcool,
sem drogas,
sem opressão,
sem ambições
egoístas.

Homens mais anjos,
menos animais.

Só pura atmosfera,
natureza,
amor,
crianças...




A razão

No meu tempo de inocente
era tudo excelente;
o encanto dava o tom;
a vida era tudo de bom.

Em fantasias acreditava;
bons sentimentos me ditava.
O mundo era tão perfeito assim,
onde nada era tão ruim.

No tempo da compreensão,
o bem já não é tudo o que há,
e o mal se mostra em seu lugar.

Daí me formei a própria razão,
onde, sobressaído dos seus enganos,
tomei meu lado como ser humano.




Voa a banda

Voa a banda.
Aves em bando,
grasnidos de asas,
brilhos pontiagudos,
entremeados de mistérios,
percalços do amor,
balanço de uma investida,
o tom do bem;

asas libertas
na vivência mundana;
coração recrudescido
pelo que em vão amou,
e à dura pena aprendeu;
pelo que sofreu
de um mundo enlouquecido,

do que lhe veio de mal.

Vôo alçado enfim;
vôo sonhado tanto,
e tanto faz sonhar.




Na vitrine

Vejo-te na vitrine,
elegante em seu ser.
Mas não és manequim.
Tens coração a bater;
tens sentimento,
ora de ódio, ora de amor;
ora seja do que for,
desde a tristeza que conheceu
à alegria que conquistou;

sangras, suas,
vertes lágrimas, salivas
- como a água na boca do desejo-
espirras, fazes pum-pum, fazes pipi;
da sua boca saem cantos;
da sua mão saem versos;
dos seus pés saem danças
bem conformadas
com a música;

tens vida nos olhos, que piscam;
na sua face se percebe
um semblante de vida,
ainda que maquiado,
e um sorriso tão sincero,
de pura felicidade,
que é também por star
ali na vitrine.





Vivo

Por coisas da vida adquiriu traumas.
D’aí às drogas,
e então à miséria;
logo, o submundo.
E assim mais sofrimento.

Afundado no mal que veio,
tão longe do bem que se foi,
mas marcado que era por amor e sonho,
despertou vivo no querer ainda
do seu mundo bom,
que não haveria de ser tudo
pobres alegrias
de sexo e orgias
em degradados guetos;
que todo o ruim
era inevitável passagem
que lhe cabia atravessar.

Um dia,
cume de tantos de persistência,
sobrelevou-se,
alcançou.





A ponta do novelo

Bem sei de ti,
o quanto seguistes no objetivo
de alcançares teu ideal,
de tornar-te o que queria
quando viesse a crescer,
astro do mundo,
como em ti te sacramentaste.

Bem sei da tua cara
de quem chupou limão,
e certamente dirias
que árduo é o caminho,
e difícil já foi encontrá-lo.
Mas muito amaste, como amas;
amas a vida.
Mas valeu amar,
amar a vida como uma criança.

Passaste na prova de fogo;
matas um leão por dia;
caíste no abismo
e de lá voltastes,
para contar histórias;

foste pelo cosmos contemplado;
viveste o inferno
para valorizares o paraíso;
te jogaste à vida
de corpo, alma e coração aberto;
foste conhecer o bem e o mal
para ter o teu discernimento;
viveste profundamente;
fizeste do mundo a tua leitura
para tirares tua conclusão,
pra serdes seguro no que comunicas,

com conhecimento de causa;
tiveste a magia necessária
para fazeres real um sonho;
é natural o teu talento.
Tens tua ciência, teu know-how,
e coragem na cara dura.
E o quanto te manténs em tua integridade,
apesar da badalação e sucesso...

Amas e beijas,
para além da imaginação;
te aniquilastes e te recompusestes;
és amorosamente sincero
e coerente ainda em seu sentimento
desenrolas ainda o novelo

desde a sua ponta.




Bolas de fogo

Mundos se acabam;
em bolas de fogo tornam-se.
Mundos outrora tão límpidos,
assim se aniquilam;
mundos que se explodem
por culpa de homens defeituosos,
que os tornam em bombas
e lhes acendem os pavios.

Almas de tais mundos,
se como tais sobrevivem,
são como seres resgatados
de onde soterrados,
pelos sonhos desmoronados,

e na essência do que são,
desvelam a dor disso tudo,
causando dó e entendimento,
mas insinuam ainda assim

bem viver, bem estar;
e fazem corações encantados

desejosos e tanto mais.





O cristo da vez

Seres vindos do caos,
sei apreciá-los,
com suas histórias que nunca saberei contar,
pois que são reveladas desde um patamar
ao qual jamais chegarei;

seres vindos do caos,
sei apreciá-los.
É belo seu renascer,
em que o passado é o velho mundo,
de saudade infinita e sem retorno,
e o presente é um mundo novo e inesperado;
e a dor retém todo o humano sentimento
do que se destina a viver um ser,
e alimenta de toda forma o desejo,
e faz tudo prosseguindo; a pura adrenalina;
a aventura de cantar uma canção,
e muitas outras tão certeiras.

O cristo da vez carrega nas costas
os pecados do mundo,
mas muita paixão oriunda do seu amor.
A língua superquente
disparando palavras faiscantes,
dizendo coisas que só eles,
pela primeira vez.




Remissão

Bizarro, jactante;
bisonho, hedonista,
faz-se nefelibata esdrúxulo,
estapafúrdio, hediondo,
lúgubre, funesto.

Monacal ensimesmado,
decerrou-lhe a senda,
ensejo de remissão.
Pela porfia de crédulo,
remido, ressurgiu.



A estrela do norte

Zé Firmino caiu,
como é de acontecer,
que não seria por onde ia nem logo
que o seu intento alcançaria.
Foi projetado à irracionalidade,
à preguiça mental; à desmotivação
para levantar seu mundo.

Mas houvera alcançado a estrela,
a estrela do norte,
e descobriu porque ir,
e desvendou para onde ir.
Levantou, andou,
prosseguiu por alcançar,
mesmo tendo se tornado
tão mais distante o seu objetivo.
Venceu maus pedaços, correu aos barrancos;
íngremes caminhos percorreu descalço;
viu-se perdido na mata,
a assustar-se com rugidos de feras;
divagou por lugares insólitos;
atravessou corredores poloneses;
contrariedades mais, e tantas mais foram,
e assim foi.

E assim aprendeu as lições
das histórias que conta;
e assim se fez seu conteúdo,
sua experiência, a ciência
do que ao mundo então revela.




Nave estrela

Estrela caiu,
nave passou...

No firmamento
do céu distante,
por esse olhar
vivi bastante.

Estrela caiu,
nave passou...

No claro escuro
da imensidão,
passou o futuro
longe do chão.

Estrela caiu,
de entre espinhos se elevou.



Voo

Ao seu desejo
asas lhe foram dadas,
como graça a impulsionar;

traça o voo da liberdade,
pela vitória conquistada.

Uma estrela sua vida invadira,
como magnífica verdade a se revelar;

sua voz pura se fez da alma
poderosa irradiação envolvente,

em cantos de energia potente,
plenos do amor que prevalece.

*******************************************
Leia "Vestígios da Luz"!
Jesus através da Música Pop!

Nenhum comentário:

Postar um comentário